Feminismo decolonial em debate: perspectivas latino-americanas em políticas públicas e direitos humanos

Feminismo decolonial em debate: perspectivas latino-americanas em políticas públicas e direitos humanos

Marcha das Mulheres Negras (Janine Moraes / Ministério da Cultura, via Wikimedia Commons)

Editorial do v.33 n.2 (2023)

A chamada para a coletânea Feminismo decolonial em debate: perspectivas latino-americanas em políticas públicas e direitos humanos propôs reunir experimentos de políticas sociais numa conjuntura de retração do financiamento público, que pudesse contemplar desenhos de ações, referências teóricas e políticas dos planos nos projetos institucionais de entes e organismos governamentais e da sociedade civil organizada em vista de um inventário de ensaios potentes de perspectivas civilizadoras, restauradoras do foco no interesse coletivo e republicano antitético da desdemocratização, potencializada nos dois últimos quadriênios.

A resposta à sugestão da interface da abordagem multidisciplinar foi alvissareira pelas formulações recepcionarem temas caros às ciências humanas e às ciências sociais aplicadas, com destaque ao paradigma interseccional e à transversalidade dos fenômenos sociais, das múltiplas resistências e do uso das teorias sociais no enfrentamento dos problemas-chave para além do imediatismo das respostas que as ações no cotidiano rotineiro da dinâmica organizacional tanto requerem.

Esta coletânea reúne quinze artigos organizados em três partes contendo ensaios, artigos e experiências.

A organização da primeira seção teve como foco os temas da resistência e resiliência provocada pelo feminismo decolonial e o comum, que podem fortalecer a crítica ao debate que considera suficiente as franjas de concessões às lutas emancipatórias. Corpo-território, os comuns e as mulheres quilombolas, Fora da ordem: deslocamentos de insurgências feministas decoloniais e Perspectivas feministas decoloniais em algumas autoras: e o caso Brasis? Que políticas? são ensaios críticos dos quais se destaca a processualidade como potência e a interpelação ao debate feminista de gênero para a diversidade de experimentos e formulações no sul global, no qual a ancestralidade ganha centralidade.

Os nove artigos reunidos na segunda seção colocam em evidência questões contemporâneas que provocam inflexões aos estudos feministas interseccionais e decoloniais às práticas profissionais. Desta sorte, o enfoque crítico da colonialidade cisgênera; das políticas públicas LGBTQI+, de enfrentamento às violências e antirracistas, da teoria da reprodução social, das identidades, do trabalho feminino, da interface das relações de gênero na educação, da urbanização e déficit habitacional examinado a partir do gênero e da raça e da abordagem do racismo na saúde, a partir de pesquisa com docentes negras, são alvissareiras porque representam formulações a respeito de pesquisas e práticas. A abordagem interseccional está presente na formulação dos estudos, dado que visibilizam opressões caudatárias do racismo, do sexismo, do classismo e da orientação sexual, para citar alguns dos eixos de análise aqui reunidos, o que pode dinamizar a análise e a intervenção sobre os desafios que interpelam o bem viver do povo brasileiro.

Na terceira e última seção, estão agrupados relatos de experiências: Protagonismo feminino no PET de Humanidades e Letras da UNILAB/Ceará (2013-2020), Metodologia de Atendimento Interdisciplinar do Centro de Referência para as Mulheres Suely de Souza Almeida/ NEPP-DH/UFRJ e Mulheres de Luta em Ação: as Ocupações do Movimento de Mulheres Olga Benário como ferramenta de denúncia e transformação social. Em comum as três experiências se dirigem às mulheres na sua diversidade e diferenças, na contracorrente de visões essencializadoras, reconstruindo metodologias e abordagens que possam permitir ultrapassar abordagens patriarcais.

A coletânea Feminismo decolonial em debate: perspectivas latino-americanas em políticas públicas e direitos humanos proposta em agosto de 2022, no contexto das eleições presidencial e legislativa numa conjuntura adversa de desinvestimento das políticas públicas e ataques contra a frágil cidadania brasileira, que vitimou fatalmente centenas de milhares de brasileiros/as pela covid, que estimulou o morticínio da população periférica, jovem e negra, que institucionalizou reformas – teto de gastos, previdência, trabalhista – que priorizaram o interesse particular dos já abastados setores da sociedade, que violaram direitos dos povos originários, maculando o meio ambiente além do desmonte da seguridade social inconclusa.

A proposição buscou dar visibilidade ao protagonismo da estética feminista na reação antirracista, anticapitalista e antissexista visibilizados a partir da decolonialidade do poder e do saber como temas transversais aos estudos em políticas públicas, serviço social e teoria social.

Por fim, queremos saudar a resposta à chamada, às/aos autores dos trabalhos da coletânea colaboração dos pareceristas e do corpo social da Revista Praia Vermelha: Estudos de Política e Teoria Social, periódico que completou 25 anos de divulgação dos temas contemporâneos em pesquisas das áreas das Ciências Humanas e das Ciências Sociais Aplicadas.

Boa leitura!

Lilia Guimarães Pougy & Ludmila Fontenele Cavalcanti
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