Carta à Suely Gomes Costa

Carta à Suely Gomes Costa

Suely Gomes Costa, professora emérita do Serviço Social da UFF (11/09/38 - 24/04/23).

Já faz algum tempo que desejo escrever essa carta a você, professora. Desculpa a demora em retomar nosso diálogo. As coisas não andam fáceis por aqui. A intensificação do trabalho, as dificuldades na vida familiar e afetiva, os projetos para o futuro. Tudo isso demanda tanto tempo e atenção.

Tenho que confessar que os últimos anos sem sua presença foram difíceis. A vida acadêmica é desafiadora, dura, competitiva e na maior parte solitária. Por aqui poucos perguntam como estamos e outros nem falam conosco. É estranho, não é?! Há aqueles que ainda me confundem com os jovens acadêmicos, talvez seja minha cor de pele que não é tão comum ou meu largo sorriso e esperança. Quem sabe?!

Lembro de nossas longas orientações que duravam horas. Seu sorriso e simpatia vinham com o rigor teórico e analítico que encantavam a jovem pesquisadora. A delicadeza no trato ajudava na compreensão da teoria que ainda faltava. As orientações eram desafiadoras, pois você apostava em mim e nas indagações que me mobilizavam.

Sua caminhada acadêmica sempre me deu inspiração. Cursou graduação em Serviço Social e Economia. Depois mergulhou no mestrado e doutorado em História. Além de ter se tornado docente da Escola de Serviço Social. E, finalmente, em 2022, o título de professora Emérita. Uma vida inteira dedicada a Universidade Federal Fluminense.

Ah, professora! Você não só trouxe contribuições para os estudos de gênero no Serviço Social, mas foi bem mais longe. Protagonizou a expansão do debate e impactou na formação de inúmeras pesquisadoras e pesquisadores. Não se limitou aos enquadramentos impostos pela rigidez de pensamentos formatados na disciplinarização, mas produziu rupturas teóricas. Arriscou com sua genialidade delicada e rígida, já que método e teoria nunca lhe faltaram.

Sinto falta de suas histórias e conselhos. Em alguns momentos tive receio de seguir por aqui. São muitos desafios para manter a criatividade intelectual e não afundar na arrogância castradora do academicismo. Mas aprendi com você que é preciso cultivar o afeto, alegria e seguir acreditando nos mais jovens, pois são eles o potencial das mudanças que virão. Obrigada por tanto ensinamento.

Por aqui seguirei alçando voos mais altos e que te façam ficar orgulhosa da trajetória que tenho construído. Até logo, mestre!

Com carinho e enorme saudade,

Rachel Gouveia
Professora da Escola de Serviço Social da UFRJ

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